sábado, agosto 26, 2006

A pré-história humana

.....O homem, na maioria das civilizações, tem seus conceitos fundamentados e compreendidos como um 'ser' imagem e semelhança a seu 'criador'. O Deus de nossa civilização, no qual cremos, ou não, é um Deus criador.
.....Para a maioria das correntes religiosas e para os teólogos, a vida tem por origem um evento sobrenatural, ou seja, além do que a química e a física são capazes de descrever. Na Bíblia, judaico-cristã, a descrição da criação do mundo é apresentada no Gênesis e não está de acordo com as observações experimentais já realizadas, isto é, não é aceita pela ciência.



.....A Bíblia abre sua discussão mostrando que o Gênesis não é um ato de criação qualquer, pois a forma como fomos criados, e todo universo, é importante. Esse 'especial ato de criação' destina a nós o Universo. A criação partiu da palavra, “no início era o verbo”, uma ferramenta abstrata, impregnada de vontades e poderes – poderes divinos. Deus apenas diz, pronunciando sua vontade, ordenando: “que a luz se faça” e, assim, Ele cria. Num dado momento, reformula Seu método de criar, abandona a criação verbal, abstrata, e passa a uma ação física e concreta – modela, a partir do 'barro', segundo sua imagem e semelhança, algo que, por Seu sopro divino, se transforma no homem.
.....Para nós, que vivemos no mundo atual, é aceitável a consciência de que se a esse Ser superior confere o poder da criação, nosso juízo é: como ficamos? como poderemos criar?, já que estamos diante de uma criação definitivamente poderosa. Deus nos fez a sua imagem e semelhança, e não se pode deixar de criar. A partir daí, está definida a 'condição humana', a ação de Deus, através de nós, seres humanos: “Eu sou o filho escolhido, um eleito que ouço Dele, vejo Dele, imagino Dele tudo o que crio".
.....Teriam os primeiros seres humanos essa consciência, pelo menos como a temos hoje? Se o ato de criar – ação ou mostra de poder – parte de Deus, a atividade de criar é uma 'dádiva' conferida ao homem. Atribui-se essa capacidade a um dom, um talento, que todos possuem. Criar, quer por uma vontade, quer por uma atitude ou busca é uma legítima aptidão humana. É por isso que os primeiros seres humanos, com a consciência que 'tinham', que mesmo podendo ser colocada em questão, demonstraram, também pelo barro, o registro de suas mãos gravadas em argila úmida na parede da caverna.

A evolução da imagem pelos ideogramas e pictogramas – rastros deixados pelo homem

.....O homem primitivo foi deixando ao longo do tempo pistas importantíssimas, o que nos permitiu descobrir e entender o passado. Pelos fósseis, por sua produção de utensílios e por suas pinturas no interior das cavernas, foi possível registrar a evolução humana. Fragmentos repletos de segredos de seu modo de vida que demonstram como se desenvolveu a capacidade de conviver com a natureza e dominá-la.
.....Esses registros começaram a 3,9 milhões de anos, na África e, de lá, originam os primatas dos quais descendemos, garante a ciência. Os antropólogos relatam que sua postura é bípede, característica que os tornou diferente dos primatas anteriores a eles: erguer o próprio corpo para andar apenas com suas pernas. Mas, era essa a única capacidade que possuíam, sua inteligência equiparava-se a de um primata animal. Provavelmente andavam em grupo, com muito ainda por aprender, sujeitos, como qualquer outro animal, às dificuldades de sobrevivência e, disso, a necessidade de mudança.
.....Obrigados a abandonar a floresta há cerca de oito milhões de anos, passaram a viver mais tempo no chão, condição importante para caracterizá-los como os primeiros a andar sobre duas pernas. Viver no chão foi de fundamental importância para o homem pré-histórico – acasalar-se, criar os filhos, relacionar-se aos demais homens. Desse relacionamento surgiram conflitos entre grupos.


Mauro Carreiro Nolasco
AGOSTO 2006

Vai acabar em pizza

A Roma de Júlio César (Gaius Julius Caeser), Brutus e Marco Antônio foi marcada pela frase – Tu quoque, Brutus, fili mi! [Até tu, Brutus, meu filho], imortalizada com as últimas palavras do grande líder militar e político romano Júlio César, em demonstração a ingratidão, em particular, desse seu único e adotivo filho, após ter seu coração inúmeras vezes apunhalado. Não em disputa por um pedaço de pizza.
Isso mesmo, a pizza ‘nasceu’ em Roma numa época anterior a Era Cristã, do poderio de Júlio César – a República Romana.
Até então comiam uma massa de farinha, proveniente do trigo, assada a forno forte, denominada “Pão de Abraão”, acrescida de sal, alho, e uma mistura de ervas, muito apreciada e conhecida por “Piscea”, com grande semelhança ao que hoje conhecemos e comemos – o “Pão Árabe”.
Se há seis mil anos os egípcios misturaram farinha a água, para alguns historiadores, aí se inicia a história da pizza. Outros atribuem aos gregos – a produção de uma massa pela mistura de: farinha de trigo, arroz ou grão-de-bico assada em tijolos quentes. O homem desbravador levou essa novidade à Itália, para uma região ao sul do rio Arno e ao norte do rio Tibre – a Península da Etrúria. Foi lá que se desenvolveu uma das mais originais culturas do Mundo Antigo, antes do florescer da Civilização Romana. Essa região aproxima-se hoje da junção da atual Toscana e partes do Lácio e Úmbria.
Voltando à pizza, três séculos a.C. os fenícios acrescentavam a então Piscea coberturas de carne e cebola. Essa forma de alimento foi adotada pelos turcos na Idade Média. Pelas cruzadas esse costume, mais uma vez, chegou à Itália, dessa vez pelo porto de Nápoles. Sofreu inúmeras mudanças: no inicio a massa fora acrescida de ervas da região e azeite de oliva – ingredientes típicos da pizza do dia-a-dia da época. Depois os italianos acrescentaram o tomate, levado à Europa, pelos navegadores e conquistadores espanhóis, que o trouxeram da América. O tomate se transforma em molho somente na primeira metade do século 19, dando à pizza a fama e popularidade que possui na Itália e no resto do mundo, como hoje degustamos.
O primeiro pizzaiolo da história que se tem noticia foi Don Rafaelle Espósito, de Nápoles, que conquistou a fama na cozinha do Palácio de Capodimonte, com seu rei Umberto I e a rainha Margherita de Sabóia – preparou uma pizza nas cores da bandeira da Itália – verde, branca e vermelha, em homenagem à rainha. Vem daí a pizza margherita.
Apreciada em todo o mundo, tem sua receita adaptada a cada país ou região, ganhando a sua massa base, inúmeros sabores – dos mais comuns aos mais exóticos – salgados e até doces. Chegou ao Brasil no final do século 19 para ‘conquistar’ a todos nós. Desde 1985, os paulistas comemoram no dia 10 de julho o dia da pizza.
Essa especialidade da culinária italiana de renome mundial tem também a fama, não internacional do – “vai acabar em pizza”. Isso é invenção brasileira. Surgiu em São Paulo, no ano de 1950, no clube de futebol de maioria de descendentes italianos, o Palmeiras, após uma fervorosa discussão entre os dirigentes do clube. Ao final da “partida de briga”, e, de certo, pelos interesses particulares de cada um – fizeram as pazes e foram comemorar ao redor de uma pizza no bairro onde a colônia italiana é grande – o Brás.
O fato que na ocasião teve grande repercussão é utilizado hoje em inúmeras situações. Ganha destaque quando ‘criam’ manobras para não causar desgaste ao governo, ou quando o país está na eminência de investigação por corrupção, em situações que envolvem ações de ética ou de duvidosa legalidade. Falamos angustiados, por diversas vezes, essa expressão, demonstrando que, sempre, ao final, os envolvidos – acusados e acusadores, e quem deve julgar e punir –, em grande comemoração, degustam uma “bela pizza”.
A vida de Caio Júlio César não acabou em pizza e nem por ela. Contudo, com sua morte Roma presenciou uma disputa pelo poder, que resultou na ‘queda’ da República e na ‘fundação’ do Império Romano. Precisamos da ‘queda’ da pouca vergonha dos falsos políticos e da ‘fundação’ da moralidade, civilidade, humanismo e tantas outras coisas mais necessárias. Aí sim vibraremos e bradaremos “vai acabar em pizza” num sinal de uma simples e honesta comemoração.

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Mauro Carreiro Nolasco
JULHO 2006

Eu não jogo futebol

Futebol: manifestação cultural de grande expressividade do povo brasileiro do segundo maior evento esportivo do planeta.
Brasil: quinhentos e seis anos de descobrimento; cento e oitenta e quatro anos de independência; cento e onze anos da realização de sua primeira partida de futebol; quarenta e oito anos do primeiro título, em 1958, na sexta edição da Copa do Mundo conquista a grande vitória e ergue a almejada taça Jules Rimet. Ano também de revelação daquele que seria considerado o melhor jogador de todos os tempos, o Pelé. A Copa do Mundo é nossa. Quem não se lembra da música, composta após esta conquista – “A taça do mundo é nossa. Com o brasileiro não há quem possa...”. Esse primeiro título traz agregado o feito do Brasil ter sido o primeiro a ganhar jogando fora de seu continente e ainda ser o responsável pelo maior placar de uma final de Copa. Caminha para o mundial de 1962. Favorito, conquista o bi-campeonato. Ano de revelação de Garrincha, com sua extraordinária habilidade. Então: Brasil, Uruguai e Itália – únicos detentores de títulos em copa, cada um com dois, mas, apenas Brasil e Itália possuem dois seguidos [únicos, até hoje, em vitórias consecutivas], e ambos caminham, em 1970, mais que para o tri-campeonato, caminham para a posse definitiva da Taça. A seleção brasileira desembarca no México acompanhada de noventa milhões de brasileiros. “Noventa milhões em ação. Pra frente, Brasil .... todos juntos, vamos ....” – essa música marcou e a Seleção Canarinho e consagra o Tri. Pelé brilha com seu Futebol Arte. A Taça agora é nossa.

Após 24 anos afastado de uma disputa de final, o Brasil conquista seu quarto título em 1994. Até aqui apenas Itália e Alemanha poderiam deixá-lo para trás. A Alemanha não chegou a semifinal e a Itália foi derrotada pelo Brasil, de uma forma como nunca acontecera nesse tipo de 'campeonato' – numa disputa de pênalti.

Para quem gosta de estatística futebolística, é título que só o Brasil possui. Assim como também ser o único a ganhar numa Copa disputada em dois países, a de 2002, realizada na Coréia e no Japão, ou se preferirem, no mundo asiático – primeira fora da Europa e das Américas, ou se ainda assim preferirem primeira do século 21. Somos os únicos a conquistar o grande título do grande século de conquista do homem, o admirável século 20. Em 2002, a seleção brasileira venceu a todas as sete partidas, alcançando o penta-campeonato. Ronaldo “o fenômeno” se destaca, dando a volta por cima do torneio anterior – ‘deu o troco’. Brasil, único a participar de todos os campeonatos de Copa desse esporte que carrega magia. Será que alguém nunca assistiu, pelo menos, a uma partida de futebol.
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Com a escolha de local e data para realização da primeira Copa definiu-se: o primeiro país que conquistasse por três vezes o campeonato mundial ficaria de posse definitiva da Taça Jules Rimet. O Brasil fez essa conquista em 70. Entretanto desde o Tri brasileiro, que essa condição foi modificada. A Taça agora e da federação, o direito do campeão à posse é temporário, a cada quatro anos passa às mãos do vitorioso – o novo troféu: a Taça FIFA –, criada para o campeonato de 1974. Seria o prenúncio de uma nova conquista de três campeonatos, pelos brasileiros e, conseqüentemente a posse incontestável da segunda grande premiação pelo Brasil, desejo de tantos países, que já os assustava.
Seleções européias, até hoje, só ganharam na Europa.
2006, ano de Copa... na Europa.
Nós torcemos pelo Brasil sim [pena que só de quatro em quatro anos] e hoje somos mais de 186 milhões de brasileiros, “... todos ligados na mesma emoção ...”.
E hexavez ! Como será ? .... Eu não jogo futebol !

Mauro Carreiro Nolasco
JUNHO 2006

Amizade em Contos

Texto para divulgação do I Concurso de Contos do Parthenon Centro de Arte e Cultura:

Amizade em Contos

Segundo Freud, o cientista sabe, enquanto o artista sente.
É no aspecto “sentimento” que acontecem todas as manifestações da alma que se transformam em quadros, música, livros...
Tornar visível em palavras ritmadas sofrimentos e alegrias que, retidos, seriam destrutivos, é tarefa do escritor. As visões sucessivas de efêmeros acontecimentos ou largos momentos são codificados, no aspecto cognitivo da articulação da lingüística, e gramaticalizados. Com esse poderoso instrumento – a “pena” –, o escritor transpõe barreiras, limites e obstáculos. Interfere na solidão e nos cárceres, pois é através do livro, que se atinge a perfeita e definitiva liberdade desejada por todos.
Com o objetivo de incentivar e promover a produção e publicação de textos literários, premiando os melhores contos, o Parthenon Centro de Arte e Cultura, lança o seu I Concurso de Contos, com o tema AMIZADE.
A palavra amizade, deverá constar do trabalho apresentado. A declaração de amizade não necessariamente deverá estar limitada simplesmente a uma pessoa, poderá estar associada a um animal, ao livro, à cidade ou a qualquer outra situação a que ela se aplique.
O concurso está com as inscrições abertas e qualquer pessoa interessada pode se inscrever.
Cada concorrente participa com apenas um trabalho, inédito, que ainda não tenha sido premiado em outro concurso, observando a exigência do tema.
Serão selecionados 10 participantes na categoria infanto-juvenil (até 18 anos) e 10 participantes na categoria adulto. Os 20 participantes finalistas terão seus contos publicados em livro.
As inscrições poderão ser feitas até o dia 31 de agosto de 2006, com as obras sendo entregues sob protocolo no Parthenon, ou enviadas pelos Correios (em registro com AR - Aviso de Recebimento), endereçadas a Parthenon Centro de Arte e Cultura, Rua Gal. Andrade Neves, 40 - CEP. 24.210-000, Centro, Niterói-RJ. Maiores informações pelo telefone 2722-2256 ou parthenon@parthenon.art.br.

“Amigo é coisa pra se guardar. Debaixo de sete chaves. Dentro do coração. Assim falava a canção...”

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Mauro Carreiro Nolasco
MAIO 2006

Incômodo Desabafo 2

Sempre gostei de acompanhar política, apesar de quase solitariamente. Acompanhar sem radicalismos; sem deixar interferir no dia-a-dia; sem entrar em discussões idiotas; sem fazer política, ou melhor, sem querer ser político. Penso que meu interesse fundamenta-se em meu pai. Em minha infância presenciei, na maioria das vezes sem entender, mas atento, para um dia poder compreender as conversas dele, principalmente com os irmãos. Em época de eleição, gostava pelos “santinhos” de candidatos que meu pai trazia para casa – eles viravam elementos de diversas brincadeiras de criança que eu criava – brincadeiras... No ano em que Jânio Quadros foi candidato à presidência, 1960, eu, achava curiosa a maneira como o candidato falava e também a companhia de uma vassoura – símbolo de sua campanha – para varrer a corrupção e a desordem instalada no país. Naquele ano, lembro-me claramente, pedi a minha mãe que votasse num certo candidato, pois na minha cabeça isso era possível, ela votar “para mim”, no meu primeiro candidato. Com a entrada do regime militar, em 1964, enfrentei, com minha mãe, filas enormes e por horas, para que cada um pudesse comprar um quilo de açúcar, ou uma lata de óleo de cozinhar, ou um quilo de feijão, ou uma unidade de qualquer outra coisa de subsistência básica. Com os abusos de 1968, filhos de amigos de meu pai, perseguidos, torturados, expulsos e mortos foram por mim sentidos, apesar dos poucos treze anos de idade.
Atravessei um longo período [já que estamos falando de política] de “recesso”.
Meu interesse volta então em 1976, ano em que entrei na faculdade, entretanto, nunca participei de movimentos estudantis. Começo a prestar atenção nas campanhas pela televisão; tomo minhas decisões na escolha de, em quem votar, nos cargos eletivos então permitidos. Lembro-me de ver na TV, em 1978, a revelação, voto a voto, de quem seria o novo presidente: João Figueiredo ou Euler Bentes – encenação pífia – eleição sem emoção. Em 1984, há exatos 22 anos, no dia 10 de abril, estava eu a cinqüenta metros do palanque montado aos fundos da Igreja da Candelária e de frente à enormidade da Avenida Presidente Vargas, sentado no asfalto da pista central, assistindo, vibrando, emocionado e confiante que tudo mudaria. Então Tancredo Neves é eleito o novo presidente, apesar de indireta, uma eleição com emoção. Tancredo não toma posse, morre, não ficamos sabendo como seria.
Com longa e dura caminhada o Partido dos Trabalhadores chega à presidência e, alguns dias após a posse, num pronunciamento em cadeia de televisão, o presidente exalta: “...eu sou o único que não pode errar...”. Voto de crédito ao presidente. E o partido e seus representantes entraram num enorme imbróglio. Partido, políticos e política, nada evoluiu na longa jornada à presidência e, no meio de toda 'podridão instalada', um fato demonstra suas inconsistência: a esposa de um não-político depõe na CPI; a oposição foi unânime em dizer “...ela veio preparada .... trouxe uma história pronta e decorada .... ela mentiu”, contudo, o mesmo unânime grupo de políticos defendeu veementemente que ela falou a “verdade” ao dizer que o José Dirceu sabia de tudo. O que foi verdade, o que foi mentira não é o que ora analiso e, sim, o seguinte: falou mentiras o tempo todo, entretanto quando uma dada informação surge e, interessa à oposição é considerada verdade. Inexperientes, fracos e ridículos políticos do partido dos trabalhadores – não vi nenhum deles ressaltar essa situação.
A cada dia o imbróglio é mais podre. Não agüentamos mais tanta pizza goela abaixo.
Ano de eleições: em quem votar? As promessas de campanha “são sempre as mesmas” – cínicas, mirabolantes, soluções para os problemas de forma “fácil”, e esse ano não será diferente. O partido de maior representatividade “não tem” candidato a presidência. Votar no candidato 'abafador' de CPI? Reeleição? ...por que não? ...e por que sim? Uma opção seria votar em quem nunca esteve eleito. Políticos por vocação, 'corretos', ficariam de fora. É complicado. E ainda temos que ter cuidado com os filhotes de 'maia', 'magalhães' e outros mais que seguramente querem uma continuidade. Vivemos num país onde a 'grande massa' é desinformada, conseqüentemente despolitizada e por qualquer camisa, boné, dez reais ou até mesmo uma promessa de pé-de-ouvido, propicia o continuísmo. E, por conta disso, ridículos políticos nos passam 'atestado de idiota' o tempo inteiro.
Alguém um dia já disse que “chumbo trocado não dói”. Peço licença por esse meu desabafo, e me alio ao grupo de música Titãs que, por sua arte, na letra de “Vossa Excelência”, expressa bem nossa indignação: “Estão nas mangas dos Senhores Ministros. Nas capas dos Senhores Magistrados. Nas golas dos Senhores Deputados. Nos fundilhos dos Senhores Vereadores. Nas perucas dos Senhores Senadores. ... Bandido! Corrupto! Ladrão!...”.
Quando disse acima: 'há exatos 22 anos' é que tomado por angústia preparo hoje, 10 de abril de 2006, esse meu desabafo, mas sem perder as esperanças. Só pelas urnas chegaremos ao julgamento político final. E continuo a crer, como no 10 de abril de 1984, que tudo pode mudar. O que foi plantado, se ainda não germinou, pode também não ter morrido.

Mauro Carreiro Nolasco
ABRIL 2006

A fera Matisse

O mundo vive o nascimento de um novo século. Mal começa o século 20, ‘estoura’ a I Guerra Mundial (1914-1918). Um novo momento no cenário cultural – a vanguarda.
No final do século 19, o movimento que surge nas artes plásticas é o Expressionismo, entrando pelo século 20 – o artista passa a expressar seus sentimentos e intensas emoções –, surgindo em duas correntes: a alemã e a francesa, denominando assim o expressionismo alemão – die brücke (a ponte – ±1905-1913) e der blaue reiter (o cavaleiro azul – ±1912-1914); e o expressionismo francês – fauve (fera – ±1904-1908), surgindo daí a ramificação Fauvisme (Fovismo).
O die brücke era composto por artistas mais agressivos e politizados, os que integravam o der blaue reiter voltaram-se para a espiritualidade, enquanto que o fauves pregavam a alegria de viver, inconsistente nas formas e evasivo na espiritualidade. Ambos foram de fundamental importância às manifestações artísticas que o sucederam, como o Surrealismo e a Bauhaus. Teve início no final do século 19, por artistas plásticos alemães, destacando-se em maior evidência entre 1910 e 1920 e desenvolveu-se também pela: literatura, música, cinema e teatro. No Expressionismo o que predomina são os “valores emocionais” sobre os “valores intelectuais”, portanto, não há mais a preocupação com o padrão de beleza tradicional, passam então a registrar – o pessimismo da vida – pela angústia, pelo desajuste, pela dor do artista em face da dura e verdadeira realidade das coisas, e, em várias situações enfoca problemas sociais, pela deformação e abstração da realidade. Os objetos têm sua forma representada por marcante destaque das linhas de contorno, linhas essas também simplificadas e pela utilização de cores fortes. Passam também, o que foi novo, a aplicar as teorias musicais à composição plástica. Foi a atmosfera mórbida e decadente do final do século 19, que motivou vários artistas a inovar, criando obras com cores violentas e distorções ousadas. Os tons pastel não pactuam com o novo momento. E esse grupo de artistas tiveram a “denominação” e o “reconhecimento” por ocasião do Salão de Outono de 1905. O reconhecimento, nessa primeira apresentação pública, criou um certo alvoroço sendo daí classificados pelos críticos por fauves, “as feras”, o que levou a Fovismo, denominação dada ao movimento, mas cada um com sua própria identidade. Para que seja bem entendido há que compreender o movimento de maior magnitude – o Expressionismo. O Fovismo se caracteriza, fundamentalmente, pela oposição ao decorativismo da Art Noveau e também ao Simbolismo. Entretanto o grupo não foi coeso, os artistas eram distintos na maneira de expressar e ver o mundo, similaridade apenas no que os faziam produzir – a inquietação. E dentre eles fica aqui, nesse momento, o destaque para a pintura do francês Henri-Émile-Benoît Matisse (1869-1954), líder desse movimento sem qualquer contestação. A base do fovismo está no colorido agressivo e vibrantes dos pós-impressionistas Vincent van Gogh e Paul Gauguin – com rejeição à “forma” imposta pelo academicismo tal qual a luminosidade dos impressionistas , o uso da cor é de primeira importância e usada sem limites e o resultado atingido é de quadros tão belos quanto artificiais. O movimento buscava – harmonia e equilíbrio – da composição, por cores intensas e não-naturalista. Henri Matisse, um líder nato que ensinou e encorajou outros artistas. Sua carreira, que atingira o auge em 1917, foi longa e variada, inicia-se no Impressionismo e vai até a uma aproximação do Abstracionismo. O quadro “A Dança” é um exemplo representativo e marcante da fase fauve de Matisse.

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Mauro Carreiro Nolasco
MARÇO 2006

Onde foram parar os tons pastel

A vida ficou mais 'crua' e 'dura' sem eles. Os “rosas pálidos” e “verdes água” juntaram-se ao “azul bebê” e diluíram-se em água e branco até desaparecerem, totalmente.
As casas outrora pintadas nesses tons exibem agora – laranjas, verdes e vermelhões 'ardidos' –, numa tentativa talvez de suprir a cor da paisagem natural que se foi com a devastação da natureza. Antigamente a decoração e as fachadas das casas não precisavam predominar sobre as flores e folhagens que as cercavam, pois tudo se harmonizava e se equilibrava. Nos jardins, rosas pálidas transpareciam entre muguets e miosótis, margaridas e junquilhos – paisagismo em tons pastel. A modernidade de Burle Marx e de Oscar Niemeyer trocou o tijolinho aparente e as casas com jardinzinho, por concreto e alguns tons de verde, nada pálidos, todos fortes e espinhentos. Os quartos das meninas eram rosa com rendas, babados e bonecas, hoje substituídos pelo clean e componentes hight-tech, assim como o quarto dos meninos, não são mais azuis, mas negros, com luzes mutantes e, nas paredes, ídolos agressivos e selvagens, se comparados à época pastel.
E a música? Ah! a música! Os semitons plenos de harmonia suave e cantos de amor foram trocados por gritos e sons contundentes que lembram sirenes vermelhas e amarelos agressivos.



Do Impressionismo no início do século XX ficaram os tons pastel do pintor francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), em suas mulheres de carnes impregnadas de rosas, azuis e esverdeados, em tons pastel, harmonizados à natureza em torno. No inverno europeu de 1881 Renoir pintou “As meninas Cahen d'Anvers”, também conhecido por “Rosa e Azul”. O quadro que demonstra ainda toda a energia de vida que procurou sempre retratar em suas obras, não foi devidamente apreciado pela família das meninas, Elizabeth e Alice, que o encomendou, permaneceu esquecido até ser adquirido pelo brasileiro Assis Chateaubriand. Tem apaixonados admiradores pelo mundo afora, e está entre nós brasileiros no acervo do Museu de Arte do Estado de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido por MASP, desde 1952. Nesse quadro Renoir contrasta ao Fovismo (ou Fauvismo – corrente artística que se situou entre 1901 e 1906 – à busca da máxima expressão pictórica) de Matisse. Os “ismos” se adequaram, no século XX, aos psiquismos e anseios do ser humano que, cada vez mais, gritava seus terrores internos, transformando-os em fortes cores cruas e agressivas. Perdemos ao longo do tempo os tons pastel da vida e da arte, substituídos pelas agressões e fragmentações impostas pela devastação da natureza por ação do homem.
Nas ilhas quentes de Bermudas, o mar é translúcido de águas mornas num intenso azul, como também o céu, e contrastam ao verde das florestas de cedro e ao cor-de-rosa das areias de suas praias. Os ônibus combinam com as cores das casas e das bermudas de seus habitantes, em suaves tons de rosa e azul. As casas no espírito britânico são coloridas – pintadas em tons pastel e todas têm o telhado branco. Não há outro lugar assim.
Que voltem os tons pastel, um dia, a enfeitar nossas vidas e povoar nossos sonhos e nossa arte!.

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Mauro Carreiro Nolasco
FEVEREIRO 2006

O caminho para a distância

O grande público brasileiro não tem, em princípio, interesse por documentário. Embora eu não seja regra nem exceção, assisti a um documentário cinematográfico numa sessão de cinema com a lotação esgotada, pois existem bons, como este “Vinicius” – poético e afetivo – que relata a obra, a vida, a família, os amigos, os amores do grande Poeta Vinicius de Moraes. A beleza não é específica do formato como se apresenta, e sim por seu próprio conteúdo. O filme “Vinicius” agradou a mim e seguramente à platéia que dividia a sessão comigo, predominantemente de jovens cuja maioria sequer havia nascido quando da despedida do poeta de todas as coisas que lhe davam prazer na vida, pois a todo instante vibravam com o desdobrar do rico e agradável roteiro onde, familiares, artistas, parceiros e amigos contam, cantam e dizem Vinicius.
Depoimentos descontraídos constroem a narrativa. Intelectuais e artistas como – Antonio Candido, Ferreira Gullar, Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Tônia Carrero, Toquinho, sua filha Susana de Moraes, entre tantos, enriquecem o filme e lembram, com alegria, a alegria do poeta, e dele – contam da vida, revelam a intimidade, as festas, os porres, as mulheres, os encontros, experiências de trabalho e o lado espirituoso. Susana de Moraes, que se refere o tempo todo ao pai por “Vinicius”, o conceitua um homem que não tinha qualquer apego a dinheiro, mas sim a vida e a tudo que ela, de bom, se nutre – amor, poesia, música, carinho, humanismo, amizade. E concordo quando ela diz que a postura libertária, não convencional, da vida e do trabalho, é que faz viva sua obra. Maria Bethânia contou histórias e se entregou com a leitura de poemas e disse: “Vinicius... discurso do amor”. Tônia Carrero se reporta e ele “um camarada que viveu de paixões”. Chico Buarque faz substanciosas considerações deixando o filme bem 'amarradinho' e arrebata, falando de afeto, cumplicidade, ética, gentileza – “Vinicius não caberia no mundo de hoje”. O Rio de hoje dos abandonos, desmandos, violências, ingerências, não é para Vinicius. Tocante e sincera a emoção de Edu Lobo, qual alegre a de Toquinho, o parceiro presente na sua manhã de despedida.
Eis que aparece o nosso ministro da cultura, o cantor-político Gilberto Gil, profundamente vazio. Falou e não disse nada. E me lembrei de ter lido, lá pelo meio do ano passado, que ele estivera na Bienal de Veneza e que não comparecera ao pavilhão brasileiro do mais importante evento internacional de arte do mundo. Na abertura oficial não prestigiou os artistas brasileiros que representavam e divulgavam o Brasil, mas, divulgou a si mesmo cantando para italianos. Ato do mesmo ministro da cultura que, poucos meses antes dessa bienal, criticara na imprensa a omissão do governo na Cultura: “Como é possível que uma nação tão rica e plural em manifestações e valores culturais tenha um Estado tão omisso em sua visão da cultura e das políticas culturais?”. Constatação triste que se faz desse político-cantor, representante de uma cultura que só interessa aos brasileiros – a mais ninguém – não interessa ao governo, não interessa aos partidos; não interessa nem ao ministro. Numa segunda aparição no filme continuou a nada dizer. E como não tem nada pra falar a não ser ficar enumerando adjetivos ‘descosturados’, para alegria da platéia, começa a cantar.
Vinicius, um homem que não tolerava convenções, que defendia liberdade aos sentimentos – casou-se nove vezes, e sempre, loucamente apaixonado. Vinicius nasceu em 1913, um pleno poeta do cotidiano que 'curtiu' densamente a vida e as mudanças de sua cidade por 67 anos, até sua morte em 1980.
Toda vez que vejo uma importante manifestação cultural recomendo a quem puder. É por isso que falei de um filme, melhor dizendo, de um documentário que não é somente biográfico, é, como já disse, – poético e afetivo – e da maior importância.
“O caminho para a distância”, primeiro livro de Vinicius, foi publicado em 1933. Aproprio-me do seu título e destaco os últimos versos do poema “O poeta”.



A vida do poeta tem um ritmo diferente

Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu

Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis.


Poeta Grande, preciso e rigoroso mas também moderno, escritor, diplomata, crítico de cinema, um dos fundadores da bossa nova, músico, compositor, intérprete, boêmio, amante, mulherengo, amigo, carioca, um homem de bem, ... como seu nome, ... todo no plural.

Mauro Carreiro Nolasco
JANEIRO 2006

Nossa raiz américa

No ano de 2003 o CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, do Rio de Janeiro, apresentou “Arte da África”, uma bela exposição da arte e da história africana por obras dos séculos XV ao XX de mais de trinta países africanos do sul do deserto do Saara, no passado também denominada de África Negra. Esculturas figurativas, máscaras, instrumentos musicais e outros objetos totalizaram cerca de 300 peças dessa mostra eleita pelos críticos como a melhor daquele ano e que atraiu quase um milhão de visitantes.
Em 2004 foi a vez de “Antes - Histórias da Pré-história”, uma exposição que reuniu, também pela primeira vez, mais de 300 peças. Artefatos, objetos de arte e achados arqueológicos – nossas bases da história da arte – estatuetas, cerâmicas, urnas funerárias, desenhos e gravuras rupestres, na emocionante aventura do homem de se expressar, com sua marca anônima, contudo singular e eterna. Também a fauna e as condições da vida e do ambiente de nossos ancestrais do litoral, dos planaltos e da região amazônica, além de esqueletos e evidências históricas de nossa paisagem antes dos índios. Mais de seiscentas mil pessoas a visitaram.
Agora em 2005 fecha-se um triângulo de arte, é a vez de “Por Ti América”, um retrato das civilizações pré-colombianas – as Américas, uma região onde, há mais de cinco mil anos atrás, prosperaram diversificadas e esplendorosas culturas, nossas raízes pré-colombianas.
A grande maioria das pessoas em algum momento já tomou conhecimento dos maias, incas e astecas, entretanto as civilizações pré-colombianas não se restringem a essas, pois temos ainda: araucanos, ayllu, aymaras, chancas, chavín, chichimecas, chimus, huari, huastecas, marajoara, mochica, parasca-nazca, olmecas, tiahuanaco, toltecas, totonacas, yanacona, zapoteca etc.. Nomes estranhos de um universo de cerca de 70 civilizações que viviam, nas Américas do Sul e Central e México, antes da chegada dos europeus. Entende-se por pré-colombiano a tudo que se refere ao continente americano até o final do século XV, precisamente no ano de 1492, com a chegada do navegador italiano Cristóvão Colombo, em sua quarta e última viagem, a novas terras. Os povos pré-colombianos eram em grande número, com três culturas complexas em maior destaque – Astecas, Maias e Incas –, por isso ouve-se mais delas, entretanto pouco se sabe sobre a arte, a ciência e a cultura dessas civilizações que não podem ser tratadas de 'primitivas'. Conquistaram e difundiram suas culturas por essas Américas.
Por que razão esses povos nos são tão desconhecidos? Suas histórias, mito e religiões, ciência e arquitetura não foram devidamente estudados e relatados pelos pesquisadores há até bem pouco tempo. Talvez que temerosos de serem ofuscados por uma civilização por vezes superior a deles, os espanhóis não hesitaram em “desmontar” e fazer com que se esqueçam essas culturas essas culturas. Só chegou o que os colonizadores quiseram mostrar. Há que se resgatar esse passado.
A exposição está composta por 354 peças de diversas civilizações do – México, América Central e América do Sul, num acervo de museus e instituições da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, México e Peru, reunidos pela primeira vez. Cerâmica, objetos de couro, madeira e tecido, além de artefatos de pedra, ouro e osso. Curioso o estado de preservação das peças, pois essas civilizações habitavam regiões quentes e úmidas, de clima nada favorável à sua conservação.
A mostra apresenta as diversidades culturais destas américas até as civilizações espanholas e portuguesas, é apresentada em cinco partes temáticas – Cosmovisão; Política e Sociedade; Sociedade e Comunicação - Linguagem; Sociedade e religião; Vida em Sociedade e Assentamento.
Com essa mostra o visitante saberá do nosso passado, a nossa raiz américa.

Mauro Carreiro Nolasco
DEZEMBRO 2005

Incomodo Desabafo ou Meu Grito de Munch

A semana que marcou o final da novela das oito chamou-me muita atenção e inúmeros acontecimentos vividos nesses dias me incomodaram.
A semana abrira para mim com tristes, porém doces e saudosas, lembranças. Preso em casa, ora devido ao mau tempo, ora pelo feriado de finados no meio da semana, estou diante da televisão que, invadindo meu quarto traz os fatos que me incomodaram. O primeiro deles foi a morte por doença febril aguda, a febre maculosa causada por bactéria e transmitida pelo carrapato, de um médico superintendente da vigilância sanitária – sanitarista / médico / febre maculosa / morte – não cabe em mim essa combinação de coisas. Depois pela cena do Paulo Maluf que impossibilitado (pelo menos é o que se espera) de ir à verdadeira, viaja à suíça paulista. Ele está em Campos do Jordão destruindo um 'superfaturado' (devido às dimensões avantajadas) pastel, o que não me parece, mesmo não sendo médico, aconselhado a quem há bem pouco tempo, reclamava de problemas de coração e estômago. Qual o saudável político a degustar seu gorduroso pastel, na novela das oito a personagem Djanira Pimenta vem, mais uma vez, passar às nossas caras que os poderosos estão acima das leis. Termina a novela e essa personagem, que vende documentos falsos e atravessa ilegais pela fronteira mexicana, sai impune, e mais, passa a imagem de colaboradora com a justiça. Ela consegue livrar-se colocando em 'cana' um dos seus, que tentara vôo livre. Fatos verdadeiros em ficção e terrível exemplo a nossa ‘grande massa’ sem senso próprio.
Sabemos da existência dos intocáveis.
De volta à vida real, a justiça que liberta político corrupto libera aposentadoria praticamente plena a juiz nordestino assassino. Ainda ouvi falar: do ônibus metralhado no subúrbio carioca; do roubo aos frades (que fazem voto de pobreza) da Igreja dos Capuchinhos; de um “novo jeitinho” brasileiro, que achei melhor nem obter detalhes, pois não se deve semear pragas. Com os comerciais da tv vejo o que a primeira vista parecia sugerir uma alegre publicidade de cerveja – um jovem se desloca com dificuldade numa densa e calorosa união de torcedores da arquibancada de um estádio de futebol, com algumas latas de cerveja. Ao fim da jornada distribui a seus amigos companheiros; acomoda-se; e, quando vai saborear a sua, é surpreendido por um estranho (propositalmente escolhido por sua desenvolvida estatura) que bate com violência em seu ombro e diz: “e a minha?” – seu tamanho faz alusão à superioridade impune e a publicidade me sugere: apologia à agressividade, à demonstração de força, à falta de educação e outras coisas mais. É ilusão pensar que ainda se possa viver no mundo do puro e ingênuo Carrerinha, personagem também da novela que mesmo inconseqüente e corajoso, sem juízo e fantasioso, é bom, e vive num mundo irreal impossível de existir. Com toda essa crise só pode existir um mundo melhor pela arte, tomando-a como importante ferramenta de educação.
O pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), apontado como pioneiro do expressionismo alemão (viveu em Berlim de 1892 a 1895), defendeu quando jovem: "Queremos mais do que uma mera fotografia da natureza. Não queremos pintar quadros bonitos para serem pendurados nas paredes das salas de visitas. Queremos criar uma arte que dê algo à humanidade, ou ao menos assentar suas fundações. Uma arte que atraia a atenção e absorva. Uma arte criada no âmago do coração." Aos trinta anos de idade pinta “O Grito”, uma representação da agonia moderna, desabafo de uma artista que priorizava temas como: a angústia, a doença, a morte, mas também o amor.



Peço licença a Munch para lançar meu Grito – a semana teria fechado melhor para mim se eu tivesse entregado à redação desse jornal o artigo que já estava pronto, mas eu não consegui deixar de desabafar e mostrar que assim também se manifesta a arte.


Visite uma galeria... Visite um museu.


Mauro Carreiro Nolasco
NOVEMBRO 2005

Manifestação da Arte

Das manifestações as quais se ocupa o homem, podemos dizer que a arte é a manifestação do seu sentir traduzido em símbolos. Não as encontraremos registradas em nenhum “tratado de convenções”, e não necessitam expressar qualquer tipo de conceito a quem a admira, – a arte é para ser 'sentida'.
René-François-Auguste Rodin (1840-1917), o famoso escultor francês, conhecido entre nós por Rodin e por seu marcante trabalho “O Pensador”, com sua genialidade nos apresenta: A arte é a contemplação: é o prazer do espírito que penetra a natureza e descobre que ela também tem uma alma. É a missão mais sublime do homem, pois é o exercício do pensamento que busca compreender o universo, e fazer com que os outros o compreendam.



Cada um de vocês se lembra de quando era criança? Os desenhos, os lápis de cor, as canções, as inúmeras brincadeiras... Para alguns, ou para muitos, que esqueceram essa primeira experiência agradável e útil, com o passar do tempo essas coisas tornaram-se inúteis ou tão somente para momentos esporádicos... de lazer.
Surge o homem, surge a arte. Ela está presente em todas as culturas, e graças a essa presença sabemos muito da trajetória humana. Devemos à arte – persistente e vencedora à passagem do tempo –, esse importante registro. Para os que acreditam que a arte é uma ocupação de lazer, e, se não bastasse, atribuem ao artista: “viver no mundo da lua”; um artista não consegue se sustentar pela arte; arte não é profissão; é melhor que tenha uma profissão dentro dos padrões 'normais' da sociedade, e deixe, por exemplo, a pintura para o lazer de fim-de-semana. Entretanto, essas mesmas pessoas 'consomem arte': indo ao teatro; a um espetáculo de dança ou música; penduram um belo quadro na sala, atrás e sobre o sofá. Não 'enxergam' que essa gente que faz arte, é que proporciona 'todos' esses momentos de satisfação, cada um com seu trabalho dando trabalho a outros, e continuam achando que arte é apenas para alguns, não para qualquer um.
Como que não é para qualquer um, se o homem é um ser projetado para criar. No dia-a-dia praticamos arte o tempo todo em paralelo às atividades de rotina: combinamos cores ao vestir; combinamos palavras para convencer da venda de um produto; divagamos quando, de olhos fechados com languidez ao som do canto de um pássaro ou de uma música, liberamos a imaginação.
Um mundo de arte. Esta manifestação, não importa com qual tipo de arte, preenche qualquer vazio. O que precisamos é descobrir de que maneira se pode dar a devida importância às manifestações da infância, que nos faziam tanto bem na primeira fase da vida, que rejeitamos na fase adulta. Arte também é libertar a criança que vive em nós.

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Mauro Carreiro Nolasco
OUTUBRO 2005

Falando de Arte

A Coluna Olho Mágico iniciou em setembro de 2005 no Jornal PortaVoz com o artigo que segue:

Falando de Arte

Vislumbrar, canalizar o olhar que se expande em misteriosos mundos: assim se descobre à arte. Magia e encantamento, mistério e imaginação. Uma forma nunca é o que parece, a imagem transformada em arte é sempre mítica.
Através do olho mágico, nome desta coluna de arte, o leitor descobrirá o mundo encantado do fazer artístico e das contínuas mutações da arte.
Este jornal, PORTA-VOZ, abre com a edição desse exemplar um importante espaço à Arte, e é com satisfação que agradeço a direção desse periódico, pela oportunidade de me apresentar a seu público com essa coluna, que foi “concebida” para tratar
de Arte – divulgar a produção historiográfica recente de nossos artistas, debater temas da atualidade, apresentar experiências diversas, falar de arte de modo a derrubar mitos, fomentar consumo, formar público.
Olho mágico pretende, através de uma prática agradável e simples: estimular o gosto pela Arte, ajudando a pensar de maneira crítica e consciente. Gostar de Arte – quem ainda não descobriu?
Entre as funções de uma coluna de arte está a de mostrar como as coisas eram, como elas se tornaram o que são. O “conhecimento do passado” reflete seguramente na presente consciência no mundo. Na Grécia dos deuses acreditava-se que “poesia era pintura falada” e que “pintura era poesia em silêncio”. Falar de Arte é relatar o que acontece com algo que carrega consigo um grande mistério. Contudo fala-se, já há algum tempo, em crise da arte – ou será crise da humanidade?
É o momento de iniciarmos um novo modo de ver, uma nova crítica, romântica e poética. É com crítica centrada, afirmativa e corajosa que se muda, que se contribui para uma renovação de critérios.

Que grande desafio é escrever sobre arte.

Dom Quixote, cavaleiro andante que vivia num mundo de sonhos a procura de aventuras, nasceu em 1605, pelas mãos do escritor Miguel de Cervantes, no livro “O engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha”.



Em todo o mundo, neste ano de 2005 comemora-se 400 anos de publicação dessa preciosa obra de ficção, maravilha literária, que mesmo tendo sido escrita na Idade Média, permanece atual.
O que pretendemos com nosso sonho, Que nasce hoje também pela escrita, fruto dessa nova oportunidade de fazer arte, qual a contemporaneidade de Dom Quixote é permitir ser apresentado e usufruído por novas gerações.

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Mauro Carreiro Nolasco
SETEMBRO 2005