Incomodo Desabafo ou Meu Grito de Munch
A semana que marcou o final da novela das oito chamou-me muita atenção e inúmeros acontecimentos vividos nesses dias me incomodaram.
A semana abrira para mim com tristes, porém doces e saudosas, lembranças. Preso em casa, ora devido ao mau tempo, ora pelo feriado de finados no meio da semana, estou diante da televisão que, invadindo meu quarto traz os fatos que me incomodaram. O primeiro deles foi a morte por doença febril aguda, a febre maculosa causada por bactéria e transmitida pelo carrapato, de um médico superintendente da vigilância sanitária – sanitarista / médico / febre maculosa / morte – não cabe em mim essa combinação de coisas. Depois pela cena do Paulo Maluf que impossibilitado (pelo menos é o que se espera) de ir à verdadeira, viaja à suíça paulista. Ele está em Campos do Jordão destruindo um 'superfaturado' (devido às dimensões avantajadas) pastel, o que não me parece, mesmo não sendo médico, aconselhado a quem há bem pouco tempo, reclamava de problemas de coração e estômago. Qual o saudável político a degustar seu gorduroso pastel, na novela das oito a personagem Djanira Pimenta vem, mais uma vez, passar às nossas caras que os poderosos estão acima das leis. Termina a novela e essa personagem, que vende documentos falsos e atravessa ilegais pela fronteira mexicana, sai impune, e mais, passa a imagem de colaboradora com a justiça. Ela consegue livrar-se colocando em 'cana' um dos seus, que tentara vôo livre. Fatos verdadeiros em ficção e terrível exemplo a nossa ‘grande massa’ sem senso próprio.
Sabemos da existência dos intocáveis.
De volta à vida real, a justiça que liberta político corrupto libera aposentadoria praticamente plena a juiz nordestino assassino. Ainda ouvi falar: do ônibus metralhado no subúrbio carioca; do roubo aos frades (que fazem voto de pobreza) da Igreja dos Capuchinhos; de um “novo jeitinho” brasileiro, que achei melhor nem obter detalhes, pois não se deve semear pragas. Com os comerciais da tv vejo o que a primeira vista parecia sugerir uma alegre publicidade de cerveja – um jovem se desloca com dificuldade numa densa e calorosa união de torcedores da arquibancada de um estádio de futebol, com algumas latas de cerveja. Ao fim da jornada distribui a seus amigos companheiros; acomoda-se; e, quando vai saborear a sua, é surpreendido por um estranho (propositalmente escolhido por sua desenvolvida estatura) que bate com violência em seu ombro e diz: “e a minha?” – seu tamanho faz alusão à superioridade impune e a publicidade me sugere: apologia à agressividade, à demonstração de força, à falta de educação e outras coisas mais. É ilusão pensar que ainda se possa viver no mundo do puro e ingênuo Carrerinha, personagem também da novela que mesmo inconseqüente e corajoso, sem juízo e fantasioso, é bom, e vive num mundo irreal impossível de existir. Com toda essa crise só pode existir um mundo melhor pela arte, tomando-a como importante ferramenta de educação.
O pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), apontado como pioneiro do expressionismo alemão (viveu em Berlim de 1892 a 1895), defendeu quando jovem: "Queremos mais do que uma mera fotografia da natureza. Não queremos pintar quadros bonitos para serem pendurados nas paredes das salas de visitas. Queremos criar uma arte que dê algo à humanidade, ou ao menos assentar suas fundações. Uma arte que atraia a atenção e absorva. Uma arte criada no âmago do coração." Aos trinta anos de idade pinta “O Grito”, uma representação da agonia moderna, desabafo de uma artista que priorizava temas como: a angústia, a doença, a morte, mas também o amor.
Peço licença a Munch para lançar meu Grito – a semana teria fechado melhor para mim se eu tivesse entregado à redação desse jornal o artigo que já estava pronto, mas eu não consegui deixar de desabafar e mostrar que assim também se manifesta a arte.
Visite uma galeria... Visite um museu.
Mauro Carreiro Nolasco
NOVEMBRO 2005
A semana abrira para mim com tristes, porém doces e saudosas, lembranças. Preso em casa, ora devido ao mau tempo, ora pelo feriado de finados no meio da semana, estou diante da televisão que, invadindo meu quarto traz os fatos que me incomodaram. O primeiro deles foi a morte por doença febril aguda, a febre maculosa causada por bactéria e transmitida pelo carrapato, de um médico superintendente da vigilância sanitária – sanitarista / médico / febre maculosa / morte – não cabe em mim essa combinação de coisas. Depois pela cena do Paulo Maluf que impossibilitado (pelo menos é o que se espera) de ir à verdadeira, viaja à suíça paulista. Ele está em Campos do Jordão destruindo um 'superfaturado' (devido às dimensões avantajadas) pastel, o que não me parece, mesmo não sendo médico, aconselhado a quem há bem pouco tempo, reclamava de problemas de coração e estômago. Qual o saudável político a degustar seu gorduroso pastel, na novela das oito a personagem Djanira Pimenta vem, mais uma vez, passar às nossas caras que os poderosos estão acima das leis. Termina a novela e essa personagem, que vende documentos falsos e atravessa ilegais pela fronteira mexicana, sai impune, e mais, passa a imagem de colaboradora com a justiça. Ela consegue livrar-se colocando em 'cana' um dos seus, que tentara vôo livre. Fatos verdadeiros em ficção e terrível exemplo a nossa ‘grande massa’ sem senso próprio.
Sabemos da existência dos intocáveis.
De volta à vida real, a justiça que liberta político corrupto libera aposentadoria praticamente plena a juiz nordestino assassino. Ainda ouvi falar: do ônibus metralhado no subúrbio carioca; do roubo aos frades (que fazem voto de pobreza) da Igreja dos Capuchinhos; de um “novo jeitinho” brasileiro, que achei melhor nem obter detalhes, pois não se deve semear pragas. Com os comerciais da tv vejo o que a primeira vista parecia sugerir uma alegre publicidade de cerveja – um jovem se desloca com dificuldade numa densa e calorosa união de torcedores da arquibancada de um estádio de futebol, com algumas latas de cerveja. Ao fim da jornada distribui a seus amigos companheiros; acomoda-se; e, quando vai saborear a sua, é surpreendido por um estranho (propositalmente escolhido por sua desenvolvida estatura) que bate com violência em seu ombro e diz: “e a minha?” – seu tamanho faz alusão à superioridade impune e a publicidade me sugere: apologia à agressividade, à demonstração de força, à falta de educação e outras coisas mais. É ilusão pensar que ainda se possa viver no mundo do puro e ingênuo Carrerinha, personagem também da novela que mesmo inconseqüente e corajoso, sem juízo e fantasioso, é bom, e vive num mundo irreal impossível de existir. Com toda essa crise só pode existir um mundo melhor pela arte, tomando-a como importante ferramenta de educação.
O pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), apontado como pioneiro do expressionismo alemão (viveu em Berlim de 1892 a 1895), defendeu quando jovem: "Queremos mais do que uma mera fotografia da natureza. Não queremos pintar quadros bonitos para serem pendurados nas paredes das salas de visitas. Queremos criar uma arte que dê algo à humanidade, ou ao menos assentar suas fundações. Uma arte que atraia a atenção e absorva. Uma arte criada no âmago do coração." Aos trinta anos de idade pinta “O Grito”, uma representação da agonia moderna, desabafo de uma artista que priorizava temas como: a angústia, a doença, a morte, mas também o amor.
Peço licença a Munch para lançar meu Grito – a semana teria fechado melhor para mim se eu tivesse entregado à redação desse jornal o artigo que já estava pronto, mas eu não consegui deixar de desabafar e mostrar que assim também se manifesta a arte.
Visite uma galeria... Visite um museu.
Mauro Carreiro Nolasco
NOVEMBRO 2005
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