Onde foram parar os tons pastel
A vida ficou mais 'crua' e 'dura' sem eles. Os “rosas pálidos” e “verdes água” juntaram-se ao “azul bebê” e diluíram-se em água e branco até desaparecerem, totalmente.
As casas outrora pintadas nesses tons exibem agora – laranjas, verdes e vermelhões 'ardidos' –, numa tentativa talvez de suprir a cor da paisagem natural que se foi com a devastação da natureza. Antigamente a decoração e as fachadas das casas não precisavam predominar sobre as flores e folhagens que as cercavam, pois tudo se harmonizava e se equilibrava. Nos jardins, rosas pálidas transpareciam entre muguets e miosótis, margaridas e junquilhos – paisagismo em tons pastel. A modernidade de Burle Marx e de Oscar Niemeyer trocou o tijolinho aparente e as casas com jardinzinho, por concreto e alguns tons de verde, nada pálidos, todos fortes e espinhentos. Os quartos das meninas eram rosa com rendas, babados e bonecas, hoje substituídos pelo clean e componentes hight-tech, assim como o quarto dos meninos, não são mais azuis, mas negros, com luzes mutantes e, nas paredes, ídolos agressivos e selvagens, se comparados à época pastel.
E a música? Ah! a música! Os semitons plenos de harmonia suave e cantos de amor foram trocados por gritos e sons contundentes que lembram sirenes vermelhas e amarelos agressivos.
Do Impressionismo no início do século XX ficaram os tons pastel do pintor francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), em suas mulheres de carnes impregnadas de rosas, azuis e esverdeados, em tons pastel, harmonizados à natureza em torno. No inverno europeu de 1881 Renoir pintou “As meninas Cahen d'Anvers”, também conhecido por “Rosa e Azul”. O quadro que demonstra ainda toda a energia de vida que procurou sempre retratar em suas obras, não foi devidamente apreciado pela família das meninas, Elizabeth e Alice, que o encomendou, permaneceu esquecido até ser adquirido pelo brasileiro Assis Chateaubriand. Tem apaixonados admiradores pelo mundo afora, e está entre nós brasileiros no acervo do Museu de Arte do Estado de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido por MASP, desde 1952. Nesse quadro Renoir contrasta ao Fovismo (ou Fauvismo – corrente artística que se situou entre 1901 e 1906 – à busca da máxima expressão pictórica) de Matisse. Os “ismos” se adequaram, no século XX, aos psiquismos e anseios do ser humano que, cada vez mais, gritava seus terrores internos, transformando-os em fortes cores cruas e agressivas. Perdemos ao longo do tempo os tons pastel da vida e da arte, substituídos pelas agressões e fragmentações impostas pela devastação da natureza por ação do homem.
Nas ilhas quentes de Bermudas, o mar é translúcido de águas mornas num intenso azul, como também o céu, e contrastam ao verde das florestas de cedro e ao cor-de-rosa das areias de suas praias. Os ônibus combinam com as cores das casas e das bermudas de seus habitantes, em suaves tons de rosa e azul. As casas no espírito britânico são coloridas – pintadas em tons pastel e todas têm o telhado branco. Não há outro lugar assim.
Que voltem os tons pastel, um dia, a enfeitar nossas vidas e povoar nossos sonhos e nossa arte!.
Visite uma galeria... Visite um museu.
Mauro Carreiro Nolasco
FEVEREIRO 2006
As casas outrora pintadas nesses tons exibem agora – laranjas, verdes e vermelhões 'ardidos' –, numa tentativa talvez de suprir a cor da paisagem natural que se foi com a devastação da natureza. Antigamente a decoração e as fachadas das casas não precisavam predominar sobre as flores e folhagens que as cercavam, pois tudo se harmonizava e se equilibrava. Nos jardins, rosas pálidas transpareciam entre muguets e miosótis, margaridas e junquilhos – paisagismo em tons pastel. A modernidade de Burle Marx e de Oscar Niemeyer trocou o tijolinho aparente e as casas com jardinzinho, por concreto e alguns tons de verde, nada pálidos, todos fortes e espinhentos. Os quartos das meninas eram rosa com rendas, babados e bonecas, hoje substituídos pelo clean e componentes hight-tech, assim como o quarto dos meninos, não são mais azuis, mas negros, com luzes mutantes e, nas paredes, ídolos agressivos e selvagens, se comparados à época pastel.
E a música? Ah! a música! Os semitons plenos de harmonia suave e cantos de amor foram trocados por gritos e sons contundentes que lembram sirenes vermelhas e amarelos agressivos.
Do Impressionismo no início do século XX ficaram os tons pastel do pintor francês Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), em suas mulheres de carnes impregnadas de rosas, azuis e esverdeados, em tons pastel, harmonizados à natureza em torno. No inverno europeu de 1881 Renoir pintou “As meninas Cahen d'Anvers”, também conhecido por “Rosa e Azul”. O quadro que demonstra ainda toda a energia de vida que procurou sempre retratar em suas obras, não foi devidamente apreciado pela família das meninas, Elizabeth e Alice, que o encomendou, permaneceu esquecido até ser adquirido pelo brasileiro Assis Chateaubriand. Tem apaixonados admiradores pelo mundo afora, e está entre nós brasileiros no acervo do Museu de Arte do Estado de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido por MASP, desde 1952. Nesse quadro Renoir contrasta ao Fovismo (ou Fauvismo – corrente artística que se situou entre 1901 e 1906 – à busca da máxima expressão pictórica) de Matisse. Os “ismos” se adequaram, no século XX, aos psiquismos e anseios do ser humano que, cada vez mais, gritava seus terrores internos, transformando-os em fortes cores cruas e agressivas. Perdemos ao longo do tempo os tons pastel da vida e da arte, substituídos pelas agressões e fragmentações impostas pela devastação da natureza por ação do homem.
Nas ilhas quentes de Bermudas, o mar é translúcido de águas mornas num intenso azul, como também o céu, e contrastam ao verde das florestas de cedro e ao cor-de-rosa das areias de suas praias. Os ônibus combinam com as cores das casas e das bermudas de seus habitantes, em suaves tons de rosa e azul. As casas no espírito britânico são coloridas – pintadas em tons pastel e todas têm o telhado branco. Não há outro lugar assim.
Que voltem os tons pastel, um dia, a enfeitar nossas vidas e povoar nossos sonhos e nossa arte!.
Visite uma galeria... Visite um museu.
Mauro Carreiro Nolasco
FEVEREIRO 2006
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home