sábado, agosto 26, 2006

Vai acabar em pizza

A Roma de Júlio César (Gaius Julius Caeser), Brutus e Marco Antônio foi marcada pela frase – Tu quoque, Brutus, fili mi! [Até tu, Brutus, meu filho], imortalizada com as últimas palavras do grande líder militar e político romano Júlio César, em demonstração a ingratidão, em particular, desse seu único e adotivo filho, após ter seu coração inúmeras vezes apunhalado. Não em disputa por um pedaço de pizza.
Isso mesmo, a pizza ‘nasceu’ em Roma numa época anterior a Era Cristã, do poderio de Júlio César – a República Romana.
Até então comiam uma massa de farinha, proveniente do trigo, assada a forno forte, denominada “Pão de Abraão”, acrescida de sal, alho, e uma mistura de ervas, muito apreciada e conhecida por “Piscea”, com grande semelhança ao que hoje conhecemos e comemos – o “Pão Árabe”.
Se há seis mil anos os egípcios misturaram farinha a água, para alguns historiadores, aí se inicia a história da pizza. Outros atribuem aos gregos – a produção de uma massa pela mistura de: farinha de trigo, arroz ou grão-de-bico assada em tijolos quentes. O homem desbravador levou essa novidade à Itália, para uma região ao sul do rio Arno e ao norte do rio Tibre – a Península da Etrúria. Foi lá que se desenvolveu uma das mais originais culturas do Mundo Antigo, antes do florescer da Civilização Romana. Essa região aproxima-se hoje da junção da atual Toscana e partes do Lácio e Úmbria.
Voltando à pizza, três séculos a.C. os fenícios acrescentavam a então Piscea coberturas de carne e cebola. Essa forma de alimento foi adotada pelos turcos na Idade Média. Pelas cruzadas esse costume, mais uma vez, chegou à Itália, dessa vez pelo porto de Nápoles. Sofreu inúmeras mudanças: no inicio a massa fora acrescida de ervas da região e azeite de oliva – ingredientes típicos da pizza do dia-a-dia da época. Depois os italianos acrescentaram o tomate, levado à Europa, pelos navegadores e conquistadores espanhóis, que o trouxeram da América. O tomate se transforma em molho somente na primeira metade do século 19, dando à pizza a fama e popularidade que possui na Itália e no resto do mundo, como hoje degustamos.
O primeiro pizzaiolo da história que se tem noticia foi Don Rafaelle Espósito, de Nápoles, que conquistou a fama na cozinha do Palácio de Capodimonte, com seu rei Umberto I e a rainha Margherita de Sabóia – preparou uma pizza nas cores da bandeira da Itália – verde, branca e vermelha, em homenagem à rainha. Vem daí a pizza margherita.
Apreciada em todo o mundo, tem sua receita adaptada a cada país ou região, ganhando a sua massa base, inúmeros sabores – dos mais comuns aos mais exóticos – salgados e até doces. Chegou ao Brasil no final do século 19 para ‘conquistar’ a todos nós. Desde 1985, os paulistas comemoram no dia 10 de julho o dia da pizza.
Essa especialidade da culinária italiana de renome mundial tem também a fama, não internacional do – “vai acabar em pizza”. Isso é invenção brasileira. Surgiu em São Paulo, no ano de 1950, no clube de futebol de maioria de descendentes italianos, o Palmeiras, após uma fervorosa discussão entre os dirigentes do clube. Ao final da “partida de briga”, e, de certo, pelos interesses particulares de cada um – fizeram as pazes e foram comemorar ao redor de uma pizza no bairro onde a colônia italiana é grande – o Brás.
O fato que na ocasião teve grande repercussão é utilizado hoje em inúmeras situações. Ganha destaque quando ‘criam’ manobras para não causar desgaste ao governo, ou quando o país está na eminência de investigação por corrupção, em situações que envolvem ações de ética ou de duvidosa legalidade. Falamos angustiados, por diversas vezes, essa expressão, demonstrando que, sempre, ao final, os envolvidos – acusados e acusadores, e quem deve julgar e punir –, em grande comemoração, degustam uma “bela pizza”.
A vida de Caio Júlio César não acabou em pizza e nem por ela. Contudo, com sua morte Roma presenciou uma disputa pelo poder, que resultou na ‘queda’ da República e na ‘fundação’ do Império Romano. Precisamos da ‘queda’ da pouca vergonha dos falsos políticos e da ‘fundação’ da moralidade, civilidade, humanismo e tantas outras coisas mais necessárias. Aí sim vibraremos e bradaremos “vai acabar em pizza” num sinal de uma simples e honesta comemoração.

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Mauro Carreiro Nolasco
JULHO 2006