sábado, agosto 26, 2006

Incômodo Desabafo 2

Sempre gostei de acompanhar política, apesar de quase solitariamente. Acompanhar sem radicalismos; sem deixar interferir no dia-a-dia; sem entrar em discussões idiotas; sem fazer política, ou melhor, sem querer ser político. Penso que meu interesse fundamenta-se em meu pai. Em minha infância presenciei, na maioria das vezes sem entender, mas atento, para um dia poder compreender as conversas dele, principalmente com os irmãos. Em época de eleição, gostava pelos “santinhos” de candidatos que meu pai trazia para casa – eles viravam elementos de diversas brincadeiras de criança que eu criava – brincadeiras... No ano em que Jânio Quadros foi candidato à presidência, 1960, eu, achava curiosa a maneira como o candidato falava e também a companhia de uma vassoura – símbolo de sua campanha – para varrer a corrupção e a desordem instalada no país. Naquele ano, lembro-me claramente, pedi a minha mãe que votasse num certo candidato, pois na minha cabeça isso era possível, ela votar “para mim”, no meu primeiro candidato. Com a entrada do regime militar, em 1964, enfrentei, com minha mãe, filas enormes e por horas, para que cada um pudesse comprar um quilo de açúcar, ou uma lata de óleo de cozinhar, ou um quilo de feijão, ou uma unidade de qualquer outra coisa de subsistência básica. Com os abusos de 1968, filhos de amigos de meu pai, perseguidos, torturados, expulsos e mortos foram por mim sentidos, apesar dos poucos treze anos de idade.
Atravessei um longo período [já que estamos falando de política] de “recesso”.
Meu interesse volta então em 1976, ano em que entrei na faculdade, entretanto, nunca participei de movimentos estudantis. Começo a prestar atenção nas campanhas pela televisão; tomo minhas decisões na escolha de, em quem votar, nos cargos eletivos então permitidos. Lembro-me de ver na TV, em 1978, a revelação, voto a voto, de quem seria o novo presidente: João Figueiredo ou Euler Bentes – encenação pífia – eleição sem emoção. Em 1984, há exatos 22 anos, no dia 10 de abril, estava eu a cinqüenta metros do palanque montado aos fundos da Igreja da Candelária e de frente à enormidade da Avenida Presidente Vargas, sentado no asfalto da pista central, assistindo, vibrando, emocionado e confiante que tudo mudaria. Então Tancredo Neves é eleito o novo presidente, apesar de indireta, uma eleição com emoção. Tancredo não toma posse, morre, não ficamos sabendo como seria.
Com longa e dura caminhada o Partido dos Trabalhadores chega à presidência e, alguns dias após a posse, num pronunciamento em cadeia de televisão, o presidente exalta: “...eu sou o único que não pode errar...”. Voto de crédito ao presidente. E o partido e seus representantes entraram num enorme imbróglio. Partido, políticos e política, nada evoluiu na longa jornada à presidência e, no meio de toda 'podridão instalada', um fato demonstra suas inconsistência: a esposa de um não-político depõe na CPI; a oposição foi unânime em dizer “...ela veio preparada .... trouxe uma história pronta e decorada .... ela mentiu”, contudo, o mesmo unânime grupo de políticos defendeu veementemente que ela falou a “verdade” ao dizer que o José Dirceu sabia de tudo. O que foi verdade, o que foi mentira não é o que ora analiso e, sim, o seguinte: falou mentiras o tempo todo, entretanto quando uma dada informação surge e, interessa à oposição é considerada verdade. Inexperientes, fracos e ridículos políticos do partido dos trabalhadores – não vi nenhum deles ressaltar essa situação.
A cada dia o imbróglio é mais podre. Não agüentamos mais tanta pizza goela abaixo.
Ano de eleições: em quem votar? As promessas de campanha “são sempre as mesmas” – cínicas, mirabolantes, soluções para os problemas de forma “fácil”, e esse ano não será diferente. O partido de maior representatividade “não tem” candidato a presidência. Votar no candidato 'abafador' de CPI? Reeleição? ...por que não? ...e por que sim? Uma opção seria votar em quem nunca esteve eleito. Políticos por vocação, 'corretos', ficariam de fora. É complicado. E ainda temos que ter cuidado com os filhotes de 'maia', 'magalhães' e outros mais que seguramente querem uma continuidade. Vivemos num país onde a 'grande massa' é desinformada, conseqüentemente despolitizada e por qualquer camisa, boné, dez reais ou até mesmo uma promessa de pé-de-ouvido, propicia o continuísmo. E, por conta disso, ridículos políticos nos passam 'atestado de idiota' o tempo inteiro.
Alguém um dia já disse que “chumbo trocado não dói”. Peço licença por esse meu desabafo, e me alio ao grupo de música Titãs que, por sua arte, na letra de “Vossa Excelência”, expressa bem nossa indignação: “Estão nas mangas dos Senhores Ministros. Nas capas dos Senhores Magistrados. Nas golas dos Senhores Deputados. Nos fundilhos dos Senhores Vereadores. Nas perucas dos Senhores Senadores. ... Bandido! Corrupto! Ladrão!...”.
Quando disse acima: 'há exatos 22 anos' é que tomado por angústia preparo hoje, 10 de abril de 2006, esse meu desabafo, mas sem perder as esperanças. Só pelas urnas chegaremos ao julgamento político final. E continuo a crer, como no 10 de abril de 1984, que tudo pode mudar. O que foi plantado, se ainda não germinou, pode também não ter morrido.

Mauro Carreiro Nolasco
ABRIL 2006