Maria Domícia
oooLamentei a morte de uma mulher que sequer conheci, mas que me despertou curiosidade, pelas histórias contadas por um amigo a seu respeito. Por uma dessas que só o destino pode 'aprontar', fui eu a dar a noticia de seu falecimento a esse amigo – João Carlos de Figueiredo. Ele, sempre de olhar atento às coisas de São Gonçalo, da arte e da cultura, declara – não li nenhuma nota nos jornais de Niterói e de São Gonçalo.
oooJoão Carlos, admirador de Maria Domícia dos Santos e de sua voz, lembra-se das apresentações, nas missas do Externato Santa Terezinha do Menino Jesus, sempre repletas de pessoas, e nos casamentos na Igreja Matriz de São Gonçalo.
oooA formação de Domicia teve início na Escola Nacional de Música, que passou a se chamar Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1965, e culminou em Niterói, com a professora Maria Elizabeth Esberad.
oooApós alguns segundos de saudosas lembranças João Carlos me diz: – Voz é um dom e uma dádiva, e, aparecem de vez em quando excelentes, mas o seu apuro, desenvolvimento, conhecimento da arte que tem pela frente, dependem da interação aluno-professor. Senão pode-se chegar a resultados desastrosos: vozes belíssimas são desperdiçadas e mal conduzidas, não chegando a lugar nenhum e perdendo toda sua espontaneidade com os absurdos, como – coloca a voz aqui, respira aqui, até chegar a lugar nenhum, perdendo a naturalidade de sua emissão, respiração etc..
oooA voz privilegiada de Domícia tinha tudo para torná-la uma destacada cantora lírica – opinião de algumas pessoas que a conheceram e que assim atestam. Sua voz era capaz de 'percorrer' do soprano ao contralto – era uma Mezzo-soprano virtuosa. Cantora lírica sem nada a dever à francesa Lily Pons (1898-1976), Soprano leggero – o timbre feminino mais leve dos sopranos; ou à norte-americana Maran Anderson (1897-1993), também da raça negra, como Domícia, Contralto – o timbre feminino mais pesado, robusto e vigoroso; ou da mais conhecida entre os brasileiros não iniciados na música lírica, a também norte-americana, Maria Callas (1923-1977) – uma das mais importantes Soprano, com sua voz poderosa pela beleza do timbre, de amplitude incomum, e que, pelo perfeito domínio das técnicas do canto, percorria desde o mezzo-soprano até o soprano coloratura.
oooEm minha curiosidade, “catuco” a memória de João Carlos por mais histórias, que me conta: – Ouvir Domícia era guardar a marca de uma grande voz. Tive oportunidade de ouvi-la, em muitos dos seus melhores momentos. E a lembrança me vem da casa do amigo Arísio, quando nos reuníamos para ouvir música e, Domícia ali desfilava árias, canções populares internacionais e até imitava Louis Armstrong...
oooE ele conta mais sobre o recital de Domícia pela criação da Associação Artística de São Gonçalo, num galpão do Colégio São Gonçalo; a interpretação em Esperanto; a participação na “Barca da Cultura”, organizada por Paschoal Carlos Magno. E ainda recorda ter levado uma gravação caseira, feita por ele próprio, ao Flávio Cavalcanti, que após ouvir comenta: – Yma Sumac, cantando em português... como é possível – e reage sem entender como essa cantora peruana poderia interpretar tão bem “Pergunte aos Canaviais” de Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba. Esclarecida a 'brincadeira', Flávio Cavalcanti quer conhecer Maria Domícia, o que acontece alguns dias depois, em seu apartamento. E ela canta ao vivo para ele que, após ouvir atentamente comenta: – Há uma razão para essa voz, pois seu nome carrega o som de três notas – o do o mi e o si – Do-mi-ci-a.
oooA carreira de um artista aqui no Brasil nunca foi fácil e ainda mais para uma negra no canto lírico. No caso de Maria Domícia, apesar de não seguir uma carreira de brilho, para a qual valor não lhe faltava, conseguiu unanimidade de conceito. João Carlos diz: – ela é, para São Gonçalo um vulto que merece ser cultuado e reverenciado.
oooA Academia Gonçalense de Letras e Artes já a integrou no quadro de membros acadêmicos, mas homenagens lhe faltam ainda, pois sempre permaneceu com suas raízes e com sua arte.
oooApós essa conversa com o amigo João Carlos, acho que descobri o porquê de meu interesse por essa mulher: é que na minha infância, em minha casa, não perdíamos o Programa Flávio Cavalcanti – minha memória não me traz a lembrança dela mas o registro é que, segundo os estudiosos, não se perde.
oooMaria Callas disse uma vez – "Se você ama a música, a ponto de servi-la humildemente, o sucesso acontecerá automaticamente.”. Pena que não ocorreu aqui com a nossa Maria – Maria Domícia.
oooVisite uma galeria... Visite um museu.
Mauro Carreiro Nolasco
MAIO 2007
oooJoão Carlos, admirador de Maria Domícia dos Santos e de sua voz, lembra-se das apresentações, nas missas do Externato Santa Terezinha do Menino Jesus, sempre repletas de pessoas, e nos casamentos na Igreja Matriz de São Gonçalo.
oooA formação de Domicia teve início na Escola Nacional de Música, que passou a se chamar Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1965, e culminou em Niterói, com a professora Maria Elizabeth Esberad.
oooApós alguns segundos de saudosas lembranças João Carlos me diz: – Voz é um dom e uma dádiva, e, aparecem de vez em quando excelentes, mas o seu apuro, desenvolvimento, conhecimento da arte que tem pela frente, dependem da interação aluno-professor. Senão pode-se chegar a resultados desastrosos: vozes belíssimas são desperdiçadas e mal conduzidas, não chegando a lugar nenhum e perdendo toda sua espontaneidade com os absurdos, como – coloca a voz aqui, respira aqui, até chegar a lugar nenhum, perdendo a naturalidade de sua emissão, respiração etc..
oooA voz privilegiada de Domícia tinha tudo para torná-la uma destacada cantora lírica – opinião de algumas pessoas que a conheceram e que assim atestam. Sua voz era capaz de 'percorrer' do soprano ao contralto – era uma Mezzo-soprano virtuosa. Cantora lírica sem nada a dever à francesa Lily Pons (1898-1976), Soprano leggero – o timbre feminino mais leve dos sopranos; ou à norte-americana Maran Anderson (1897-1993), também da raça negra, como Domícia, Contralto – o timbre feminino mais pesado, robusto e vigoroso; ou da mais conhecida entre os brasileiros não iniciados na música lírica, a também norte-americana, Maria Callas (1923-1977) – uma das mais importantes Soprano, com sua voz poderosa pela beleza do timbre, de amplitude incomum, e que, pelo perfeito domínio das técnicas do canto, percorria desde o mezzo-soprano até o soprano coloratura.
oooEm minha curiosidade, “catuco” a memória de João Carlos por mais histórias, que me conta: – Ouvir Domícia era guardar a marca de uma grande voz. Tive oportunidade de ouvi-la, em muitos dos seus melhores momentos. E a lembrança me vem da casa do amigo Arísio, quando nos reuníamos para ouvir música e, Domícia ali desfilava árias, canções populares internacionais e até imitava Louis Armstrong...
oooE ele conta mais sobre o recital de Domícia pela criação da Associação Artística de São Gonçalo, num galpão do Colégio São Gonçalo; a interpretação em Esperanto; a participação na “Barca da Cultura”, organizada por Paschoal Carlos Magno. E ainda recorda ter levado uma gravação caseira, feita por ele próprio, ao Flávio Cavalcanti, que após ouvir comenta: – Yma Sumac, cantando em português... como é possível – e reage sem entender como essa cantora peruana poderia interpretar tão bem “Pergunte aos Canaviais” de Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba. Esclarecida a 'brincadeira', Flávio Cavalcanti quer conhecer Maria Domícia, o que acontece alguns dias depois, em seu apartamento. E ela canta ao vivo para ele que, após ouvir atentamente comenta: – Há uma razão para essa voz, pois seu nome carrega o som de três notas – o do o mi e o si – Do-mi-ci-a.
oooA carreira de um artista aqui no Brasil nunca foi fácil e ainda mais para uma negra no canto lírico. No caso de Maria Domícia, apesar de não seguir uma carreira de brilho, para a qual valor não lhe faltava, conseguiu unanimidade de conceito. João Carlos diz: – ela é, para São Gonçalo um vulto que merece ser cultuado e reverenciado.
oooA Academia Gonçalense de Letras e Artes já a integrou no quadro de membros acadêmicos, mas homenagens lhe faltam ainda, pois sempre permaneceu com suas raízes e com sua arte.
oooApós essa conversa com o amigo João Carlos, acho que descobri o porquê de meu interesse por essa mulher: é que na minha infância, em minha casa, não perdíamos o Programa Flávio Cavalcanti – minha memória não me traz a lembrança dela mas o registro é que, segundo os estudiosos, não se perde.
oooMaria Callas disse uma vez – "Se você ama a música, a ponto de servi-la humildemente, o sucesso acontecerá automaticamente.”. Pena que não ocorreu aqui com a nossa Maria – Maria Domícia.
oooVisite uma galeria... Visite um museu.
Mauro Carreiro Nolasco
MAIO 2007
3 Comments:
Ilustre artista, sáúde e paz.
Revirando a internet encomtro a notícia sobre a morte de minha grande amiga Maria Domícia. Fizemos algumas apresentações juntos, enquanto eu dizia poesias ela, cantava as Bachianas.Éramos grandes amigos,o que você diz de sua voz maviosa é pura verdade. A melhor interpretação de Melodia Sentimental de Villa Lobos, creia foi dela.Éra de fazer qualquer um chorar.Conheci, também o Arízio, estudamos o científico juntos.
Fui presidente da Academia Gonçalense de Letras e Artes durante doze anos.Lá homenageamos várias vezes a Domicia que ao final das homenagens cantava para nos alegrar. Hoje, moro em Natal, RN, na beira de uma praia semi-deserta.E toda a minha riqueza são estas lembranças. Deixo o meu e-mail, parabenizando-o pela justa lembrança de Maria Domicia.
abraços do Everaldo Botelho Bezerra. (everbotelho@.interjato.com.br
Fiquei sabendo do desencarne da Prof. Domícia através da comunidade do Colégio Santa Terezinha, onde estudei na década de 60, e eles me indicaram este blog. Fiquei chocada por não ter lido nada a respeito. Prof. Domícia me faz lembrar a minha infãncia e depois a minha adolescência,e sinto muita saudade . No Colégio Santa Terezinha tinha um coral para cantar na igreja aos domingos, e eu,que sempre sonhei em participar, mas nunca tive vocação, por várias vezes me infiltrava no grupo, bem lá no fundo, e tentava, e Prof.Domícia,com o seu ouvido apurado, sempre me descobria e me tirava, e dizia, não dá, vc desafina demais, eu ria, e tentava novamente,mas nunca consegui. Prof. Domícia, o bom é a certeza que a morte não existe, e quem sabe aonde nos encontrarmos eu conseguirei cantar. Adorei encontrar este blog. Um abraço.
Maria Domicia foi minha professora de canto lírico na década de 80. Morava num edifício em frente ao Valonguinho, na UFF. Lembro-me de ficar encantada com seu vozeirão. Ela, para mim, seria a versão feminina do Milton Nascimento! As aulas terminaram pq ela sairia numa turnê , se não me engano num navio. Hj resolvi procurar alguma pista do seu paradeiro e acabei chegando nesse artigo. Grata surpresa! Obrigada.
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