quarta-feira, janeiro 17, 2007

Pecados Capitais

oooPecado – transgressão de preceito religioso, erro, falta, culpa, vício, maldade, crueldade...
oooOs pecados, caracterizam-se por “faltas graves” humanas, que a Igreja, na Idade Média, classificou e utilizou nos ensinamentos do cristianismo, objetivando 'educar' e 'proteger' os seguidores cristãos, para que pudessem compreender e controlar seus impulsos.
oooA classificação dos pecados dividiu-se em dois tipos – os pecados perdoáveis e os pecados não perdoáveis. Aos perdoáveis não há a necessidade do sacramento da confissão, já aos não-perdoáveis cabe a condenação.
oooAos pecados condenados são conferidas inúmeras interpretações. Atribui-se ao monge grego Evagrius Ponticus ou Euagrios Pontikos, que viveu de 345 a 399, a elaboração da primeira lista, relacionando oito “faltas” – “doenças espirituais” ou “males do corpo”. O teólogo tomou conhecimento destas faltas, ou doenças, pelo contato com monges no deserto egípcio. Classificou-as em ordem crescente de valor ou gravidade: gula, luxúria, avareza, melancolia, ira, acedia (preguiça espiritual), vaidade e orgulho.
oooO primeiro a usar o termo “pecado capital” foi o Papa Gregório I (590-604), no final do século VI, reduzindo a sete as transgressões. Baseado nas doutrinas do monge grego, ele fez a fusão de 'vaidade' e 'orgulho'; 'acedia' passou a 'melancolia'; acrescentou, por fim, a 'inveja'. E também criou a sua lista, em ordem decrescente de ofensas: orgulho, inveja, ira, melancolia, avareza, gula e luxúria.
oooUma lista mais atualizada é atribuída a São Tomás de Aquino (1227-1274). Em sua doutrina, o filósofo e teólogo medieval reflete sobre as experiências acumuladas do homem no transcorrer de séculos de existência. O fazer filosofar de Tomás de Aquino foi especialmente dirigido à experiência e ao fenômeno. Entretanto, seu estudo dos pecados não-perdoáveis é rígido e concreto. Sua lista é então assim composta: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia.
oooHoje, a Igreja Católica os classifica por: soberba, avareza, inveja, ira, luxúria, gula, preguiça.

Soberba (do Latim soperbia) – arrogância; orgulho; presunção.
Avareza (avaritia) – apego excessivo ao dinheiro; mesquinhez; sovinice.
Inveja (invidia) – ciúme; cobiça, desejo de possuir aquilo que os outros possuem; misto de pena e de raiva; sentimento de desgosto pela prosperidade ou alegria de outrem.
Ira (ira) – cólera; desejo de vingança; indignação; raiva; zanga.
Luxúria (luxuria) – exuberância; lascívia; libertinagem; sensualidade.
Gula (gula) – avidez, gulodice; excesso na comida e bebida.
Preguiça (pigritia) – aversão ao trabalho; indolência; negligência; tendência viciosa para não trabalhar.



oooO pensamento medieval foi dominado pela idéia do pecado e pela fragilidade humana, numa clara concepção pessimista. Neste período e baseado nessas idéias é que o artista holandês Hyeronimus Bosch (Jeroen Anthoniszoon van Aken) (1450-1516) retratou em suas pinturas cenas de 'pecado' e 'tentação'. O recurso adotado foi pelo simbolismo de figuras complexas – originais ou imaginárias. Bosch registrou em sua obra “Mesa dos pecados capitais” ou “Os sete pecados mortais” – o homem pecador e a dificuldade da salvação.


A única maneira de se livrar de uma tentação é ceder.
Oscar Wilde

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Mauro Carreiro Nolasco
DEZEMBRO 2006

terça-feira, janeiro 16, 2007

Disponha de um tempo e leia

oooHá alguns dias, encontrei um ex-colega de trabalho na rua. Trocados cumprimentos, ele me perguntou: – Como vão as coisas. Respondi: – Como diz a música do Cazuza “Eu vou sobrevivendo sem um arranhão”. Ele então completou com a frase – título – da mesma música: – ...só que “O tempo não pára”. Um breve encontro. Depois, eu fiquei a questionar o 'tempo'.
oooAcho que não tenho tempo para listar os significados para essa palavra: duração, ciclo, era, fase, e, até mesmo sinônimo para 'passado'. Esse exame é grande, “demanda tempo”, ou seja, é preciso “dispor de tempo” para uma investigação mais profunda.
oooComo, “há algum tempo” ou “há quanto tempo!”, não tenho “tempo livre” ou “tempo a perder”, mesmo fazendo “gestão do tempo” que tenho, ou que “poupe meu tempo”, é difícil, verdadeiramente, “ganhar tempo”. Daí estar sempre às voltas com “falta de tempo”, em busca de “um novo tempo” ou de um “segundo tempo”. Alguém me ensina como se faz “previsão do tempo”, falam até de “distribuir o tempo”! – eu conheço 'distribuir as coisas a fazer' pelo “tempo real”, às vezes “irreal” e não posso “perder tempo”.
oooSem esquecer aquela máxima que “tempo é dinheiro” e ainda “o tempo não é propício”, “seu tempo terminou”, “nunca em tempo algum”, “ao mesmo tempo”, “em pouco tempo”, “em quanto tempo”, “a um 'tempão' que não te vejo”, “me dá um 'tempinho'”, “tem muito tempo”, “que tempo é esse de que nunca ouvi falar”, “tempo de vacas gordas”, “tempo de vacas magras”, “tempo bom” e “mau tempo”, “Tarzan no tempo da seca”, “marcas do tempo”, “sinal dos tempos” ou “final dos tempos”, “o nosso tempo”, “passou o tempo” ou “está fora do tempo”, “numa fração de tempo”, “um lapso de tempo” e outros mais.
ooo“Em tempo” e 'cercado' de “contratempos”, estou “sem tempo” pra ler “O tempo e o vento”. Acho que estamos precisando de uma “máquina do tempo”. Não posso deixar de falar que apesar de estarmos sempre a nos queixar da “falta de tempo”, estamos sempre a dizer: “você tem um tempo pra mim?”.
oooQual é o tempo que precisamos? A “luta” pela vida, o fazer diário, consomem nosso pouco, ou melhor, pouquíssimo tempo de existência. Não se deve desperdiçar esse precioso 'bem' com futilidades ou besteiras. Cabe aqui aquele lugar comum: pessoas inteligentes discutem idéias, pessoas medianas discutem fatos, já as medíocres discutem fofocas. Não ficar a “matar o tempo”, descobrir tarde demais que não é preciosismo: é preciosíssimo.
oooBem verdade que apesar do 'tumultuado' cotidiano há sempre um 'tempinho': para o lazer; para rever toda a família no cemitério porque algum parente 'partiu'; para ficar doente, cruzes! Difícil mesmo é “arrumar tempo” para meditar e discutir a vida – coisas tão simples. Mais verdade ainda é que para que possamos reservar “um tempo” para essas experiências, não podemos “perder tempo”.
oooOlhando um pouquinho atrás, na inocência de nossas infâncias, lembraremos que “o tempo passava mais devagar” – as férias escolares nunca chegavam, tais quais as datas em que ganhávamos presentes. Na adolescência achávamos que “tínhamos todo tempo do mundo”, mas, quanto tempo tem o mundo? Mais tarde descobrimos que “nem pra tudo temos todo o tempo do mundo”. Hoje, na idade adulta, com a conquista alcançada pela vivência e maturidade, estamos sempre a reclamar que não dá pra fazer todas as coisas de que necessitamos, porque o “tempo passa muito rápido” quando somos nós que passamos por Ele. O que importa é que devemos viver cada momento como se fosse o último. Muitos de nós atravessamos – o tempo da nossa vida – sem indagar da existência, passamos pela vida, simplesmente, sem saber por quê ou para quê. Será que o tempo começa ao nascermos e acaba ao morrermos? “Tempo de vida” e “tempo esgotado”. “Tempo histórico”: distinção entre passado, presente e futuro. Implacável “passagem do tempo”.
oooEm 1986, dez anos antes da morte de Renato Russo, que nasceu em 1960. Seu grupo de música Legião Urbana lançou o segundo álbum chamado “Dois”. Em uma das faixas “Tempo perdido”, com letra e música desse jovem autor, apresenta: Todos os dias quando acordo, / Não tenho mais o tempo que passou / Mas tenho muito tempo: / Temos todo o tempo do mundo. // Todos os dias antes de dormir, / Lembro e esqueço como foi o dia: / "Sempre em frente, / Não temos tempo a perder". /... / Temos nosso próprio tempo. /... / Nem foi tempo perdido; / Somos tão jovens ...
oooE, nesse mundo atual e corrido em que vivemos, lembrei-me agora de três coisas: a primeira, que “sou do tempo” que se pagava, ao banco, juros pela utilização do cheque especial, apenas – duas vezes por ano e que quase não doía – “tempos dourados”; a segunda, que meu tempo para entregar meu artigo ao jornal está acabando – “o tempo urge”; a terceira é que não vou “dar um tempo” aos que merecem o “meu precioso tempo”.
oooSobrevivendo sem um arranhão não é simplesmente sobreviver é Viver.
oooNão "sobrou tempo” para a obra-prima “Em busca do tempo perdido”, mas vou “caçar um tempo” para, oportunamente, falar dela e de seu autor, o francês Marcel Proust.

“O tempo é a insônia da eternidade”
Mario Quintana

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Mauro Carreiro Nolasco
NOVEMBRO 2006

A pré-história humana – parte 2

ooo“A pré-história humana” (PARTE 1), iniciamos uma volta no tempo. O surgimento do homem e suas transformações a caminho de como somos hoje. Questões cercadas de correntes com defesas diversas. Falamos dos rastros deixados pelos homens das cavernas.

oooEsse homem caminha, deixando seus rastros, por cerca de 1,5 milhão a 2 milhões de anos, quando surgem três novas espécies – um deles é o nosso ancestral. As condições de vida na Terra haviam mudado e esse foi um momento crítico na evolução da convivência entre espécies.
oooO clima da terra muda, as calotas polares se congelam e, em crescente desenvolvimento, represaram importantes quantidades de água. Com isso, a Terra começou a secar. Parte da África sofreu com o desaparecimento de suas florestas tropicais, dando lugar a uma nova vegetação, a savana. O alimento farto levou à existência de diferentes espécies de animais. Tal transformação, garantiu ainda a diversidade de primatas. Uma das espécies facilmente se adaptou ao alimento que havia em abundância e se beneficiou. Com peitos fortes, mandíbulas e dentes enormes, o que garantia a ele, mesmo na seca, modificar seus hábitos alimentares, era capaz de comer raízes duras condição não suportada a outras espécies. Quanto às outras duas espécies, de biótipo semelhante, viviam em constante competição pela sobrevivência – rivais na disputa pela comida.
oooO clima muda mais uma vez, o período de seca se finaliza e a história, a pré-história da evolução, segue seu rumo. Alguns hominídeos que acostumaram-se à abundância de alimentos, acomodados à condição em que viviam, com tal mudança, se desaparecem. Das outras duas espécies, uma delas, por estar igualmente despreparada, também foi extinta. Entretanto é o Homo habilis que melhor se adapta e continua evoluindo. Desenvolveu a inteligência e, por sua 'curiosidade', tornou-se inventivo, responsável pela primeira ferramenta – um machado de pedra. Sua inteligência, desenvolvida rapidamente, é atribuída a sua dieta rica em carne, cujas proteínas forneciam o que necessitava para garantir esse desenvolvimento: seu cérebro cresce.
oooO homem continua deixando evidências de sua vida cotidiana e, há cerca de 1,5 a 1 milhão de anos, quem está bem próximo do homem moderno é o Homo ergaster, que viveu no sul da África e tinha suas características físicas re-adaptadas para o clima, muito quente e seco. Seu cérebro cresceu sensivelmente em relação às outras espécies, o que representou um grande avanço, entretanto não atingindo ainda as dimensões do nosso cérebro, media apenas cerca de 2/3. Por ser agora o homem mais inteligente, passou a compreender o que estava a sua volta. Entre todos os animais, apenas o homem é capaz de olhar uma pegada, por exemplo, e entender o que é. O homem agora é capaz de 'deduzir' e 'tirar conclusão': nascia um 'modo de pensar'. Reformula o machado de pedra do Homo habilis, agora mais pesado e poderoso, com seus dois lados cortantes, permitindo incisões mais precisas resultado de 'visão e planejamento'. Sua inteligência evoluiu e não está associada apenas ao fato da produção de ferramentas e de observar o que o cerca, mas também ao 'entendimento' entre os seus. Ao constituir a comunicação pela emissão de sons, o homem começa a 'falar'. Este homem era nômade, sempre atrás de comida, não se fixando em lugar algum. Através da caça, da necessidade de reunir forças, formavam grupos para o abate de grades animais, diante da precisão, a inevitável fome. Desenvolveu o 'relacionamento' entre o grupo. Estava alinhavado os laços familiares e de amizade, a partir do gesto solidário e cooperativo, responsável pela união do grupo.
oooEstabeleceu-se a união monogâmica entre homem e mulher. O homem vive em grupo numa forma primitiva de sociedade, fundamental para sua evolução.
oooO Homo ergaster, com seu cérebro desenvolvido, alcança importante maturidade, atravessa a África em direção a outros continentes, numa caminhada de milhares de anos com novas conquistas evolutivas. Seguindo o rio, hoje chamado Nilo, atravessa o continente africano atingindo o que conhecemos por Oriente Médio. Nessa caminhada evolutiva, o grupo cresceu e, por conseguinte, a necessidade de comida aumentou, o que levou o homem a migrar para novas terras. Seguiu rumo à região da China de hoje e, nessa longa caminhada, de milhares de anos, o homem que continuou a evoluir passa a ser conhecido por Homo erectus. Esse homem, largando o machado de duas faces cortantes, passa a usar um outro tipo de ferramenta, o bambu. Eles o retiravam do bambuzal, local onde também caçavam pequenos animais, suficientes para sua subsistência. Com isso, a tecnologia não avançou. Com todo o tempo transcorrido há muito ainda que 'aprender'. O que foi mais importante para esse passo, ainda hoje não sabemos, nem quando e nem como ocorreu, mas é concreto que o homem 'descobre' e 'aprende a usar o fogo'.


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Mauro Carreiro Nolasco
OUTUBRO 2006